quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Jairo Cézar no ônibus


A GUERRA

No eterno lamento dos dias,
Dos tristes dias iguais,
Parece que não se mexem,
Lamúrias descomunais.

A noite viúva do dia
Veste vestes virginais,
Chora o angustiante choro das harpas,
Choram os anjos de metais.

Os gemidos já se ouvem,
Deflorada foi a terra,
Pelo corpo do inimigo,
Pela injusta causa da guerra.

do meu primeiro livro, Escritos no Ônibus de 2010

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Bráulio Tavares no ônibus

                                                                    Ser escritor

PUBLICADO EM 16/02/2013 no Jornal da Paraíba

Volto a lembrar a frase famosa de Ferreira Gullar: “A pior coisa de ser poeta é convencer sua mulher de que, quando você está sem camisa, debruçado na janela, fumando um cigarro e olhando lá pra fora, você está trabalhando”. O lado positivo é que qualquer vagabundo pode adotar essa atitude e defender-se dizendo: “Não me atrapalhe, estou escrevendo um poema”. Corolário: na dúvida, julga-se um poeta não pelo seu comportamento pessoal, mas pelos textos que produz. Ponto final.
 
Para romancistas ou redatores de obras de maior espessura o debruçar-se à janela não adianta muito. É possível conceber um poema apenas pensando, mas um romance de 300 páginas eu duvido. Em todo caso, não há muita diferença (do ponto de vista da família de um cidadão) entre um marido-e-pai que passa o dia fumando na janela e um marido-e-pai que passa o dia trancado num gabinete, digitando sem parar. São dois indivíduos ausentes, e um processo por abandono do lar pende como espada de Dâmocles sobre suas cabeças, eternamente, porque não basta a presença física. Família que interagir, crianças querem brincar, filhos maiores querem um dedo de prosa, a esposa quer aconchegos e afagos. E o sujeito se obstina em trancar a porta e passar o ferrolho por dentro, dizendo: “Não atrapalhem, estou criando uma obra-prima”. Muita pretensão.
 
Conversei uma vez num lançamento com a esposa do autor, que ao meu ver elogiar profusamente a obra do marido me agradeceu mais profusamente ainda. Era uma senhora com pés na terra, pão pão, queijo queijo, e me disse: “Eu não entendo nada do que ele escreve, e sou muito sincera, só percebi que ele era importante quando vi o que vocês jornalistas escreviam sobre os livros dele”. É aquela situação meio melancólica da mulher surda que casa com um pianista de concerto. Por mais que ele conquiste prêmios e viaje para tocar com a Sinfônica de Moscou, ela vai sempre ficar roendo um grão de dúvida. “Por que será que o valorizam tanto?...”
 
O escritor alcança seus maiores triunfos na solidão um escritório. Ele finaliza, de madrugada, o melhor conto quer escreveu nos últimos dez anos, e não tem a quem mostrar. A casa está silenciosa. A família dorme; mesmo que seja acordada para participar dirá “Hum-hum, maravilha, boa noite”, e virará pro outro lado. Resta ao escritor ir à geladeira, pegar uma cerveja, debruçar-se na janela e comemorar a façanha ouvindo estrelas. Menos mal, não é mesmo? Existem vocações piores. A certeza do dever cumprido e da “Última Ceia” com tinta ainda fresca deve bastar para reconfortá-lo; e se tem uma coisa no mundo que nunca vai faltar é cerveja na geladeira e estrela no céu.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Zila Mamede no ônibus


Salto esculpido
sobre o vão
do espaço
em chão
de pedra e de aço
onde não
permaneço
- p a s s o.

(Zila Mamede nasceu em Nova Palmeira-PB em 1928 e morreu em Natal-RN, em 1985. É biscoito finíssimo de uma literatura brasileira que não pode ficar escondida no tempo. O poema acima, "A ponte", foi copiado do livro "Navegos - A herança", publicado pela editora UFRN)


com Lau Siqueira

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Por que o brasileiro lê pouco?


Além de a leitura não vir de casa, a escola mais atrapalha que ajuda

por Raphael Soeiro





Fiquemos com a resposta da maior autoridade no mundo, a Unesco. Para o setor da ONU que cuida de educação e cultura, só há leitura onde: 1) ler é uma tradição nacional, 2) o hábito de ler vem de casa e 3) são formados novos leitores. O problema é antigo: muitos brasileiros foram do analfabetismo à TV sem passar na biblioteca. Para piorar, especialistas culpam a escola pela falta de leitores.

"Os professores costumam indicar livros clássicos do século 19, maravilhosos, mas que não são adequados a um jovem de 15 anos", diz Zoara Failla, do Instituto Pró-Livro. "Apresentado só a obras que considera chatas, ele não busca mais o livro depois que sai do colégio." Muitos educadores defendem que o Brasil poderia adotar o esquema anglo-saxão, em que os clássicos são um pouco mais próximos, dos anos 50 e 60, e há menos livros, que são analisados a fundo. Mas aí teria de mudar o vestibular, é isso já é outra história. 


Fonte Instituto Pró-Livro, ANL, Centro Regional para el Fomento del Libro en América Latina, el Caribe, España y Portugal (Cerlalc).

sábado, 23 de fevereiro de 2013

Ronaldo Monte no papo de sábado



A edição de fevereiro do O “Papo de Sábado”, uma iniciativa da Livraria do Luiz em parceria com escritores paraibanos ,  terá a participação do escritor e psicanalista Ronaldo Monte. O evento acontece sempre no segundo sábado de cada mês, mas, excepcionalmente, esta edição será realizada no último sábado de fevereiro. O “Papo de Sábado” é uma reunião de amantes da Literatura onde o principal objetivo é conversar, entre um café e outro, sobre a vida e a obra de algum autor convidado, assim como sobre a Literatura de um modo geral.

A participação é aberta a todos, e tem o formato informal de um bate-papo entre amigos. Até o presente momento, já participaram do papo os escritores Roberto Menezes, Janailson Macedo, Wander Shirukaya, André Ricardo Aguiar,Lau Siqueira, Sérgio de Castro Pinto, Jairo Cézar e Walter Galvão.

Um pouco mais sobre o autor


Ronaldo Monte nasceu em Maceió, Alagoas, passou a juventude no Recife, Pernambuco, onde trabalhou como redator de propaganda e  formou-se em Psicologia. Depois foi para João Pessoa ensinar na Universidade Federal da Paraíba. Além de escritor, é psicanalista.
Algumas publicações:
1992 – Pelo canto dos olhos – meu primeiro livro de poemas
2007 - O lugar da cura: construção da situação psicanalítica – Editora da
            UFPB
2012 – A menina de noite – poema publicado pela Paulus – SP
2012 – O baú do anão – contos – publicado pela Editora da UFPB

A paixão insone – romance inédito, obteve o segundo lugar na    lista de indicações do Concurso Literário Cruz e Souza, versão    
            2008 - 2009
Serviço:

O quê: Papo de Sábado com Ronaldo Monte
Quando: 23 defevereio
Onde: Livraria do Luiz – Galeria Augusto dos Anjos, centro de João Pessoa
Horas: 10h
Quanto: Gratuito

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Os personagens mais mal-humorados da história da literatura



com Car­los Wil­li­an Lei­te  |  car­loswil­li­an@uol.com.br | @revistabula
Pedi aos leitores, seguidores do Twitter e Facebook — escritores, jornalistas, professores —, que apontassem, entre personagens literários conhecidos, quais eram os mais mal-humorados da história da literatura universal. Na lista, aparecem personagens dos mais díspares perfis, em comum entre eles apenas o mau-humor crônico. De Holden Caulfield, criação de J. D. Salinger em “O Apanhador no Campo de Centeio” — o mais citado —, até o Deus vingativo do Velho Testamento bíblico. Abaixo, a lista baseada no número de citações e uma pequena amostra do humor colérico dos personagens selecionados.


Holden Caulfield, personagem de “O Apanhador no Campo de Centeio”, de J. D. Salinger (Editora do Autor)
“Não sei direito o nome da música que ele estava tocando quando entrei, mas só sei que ele estava esculhambando mesmo o troco pra valer. Dando uma porção de floreios imbecis nos agudos e outras palhaçadas que me aporrinham pra chuchu. Mas valia a pena ver os idiotas quando ele acabou. Era de vomitar. Entraram em orbita, igualzinho aos imbecis que riem como umas hienas, no cinema, das coisas sem graça. Juro por Deus que, se eu fosse um pianista, ou um autor, ou coisa que o valha, e todos aqueles bobalhões me achassem fabuloso, ia ter raiva de viver. Não ia querer nem que me aplaudissem. As pessoas sempre batem palmas pelas coisas erradas. Se eu fosse pianista, ia tocar dentro de um armário.”
José Severo, personagem de “O Ventre”, de Carlos Heitor Cony
(Companhia das Letras)
“Só creio naquilo que possa ser atingido pelo meu cuspe. O resto é cristianismo e pobreza de espírito. Não creio nos sentimentais encabulados, nos líricos disfarçados que se benzem quando os raios caem. Meu materialismo é integral. Nasceu no mesmo ventre que me concebeu. Mas voltemos ao irmão. Dentro da predestinação que fez Caim matar o inocente Abel e Jacó passar o conto-do-vigário em Esaú, o torturado irmão foi coisa que sempre desprezei. Nunca fiz indagações em torno de nossas diferenças. Sei, o problema é dos muitos que aguçam a ignorância dos sábios e demais desocupados que teimam explicar coisas inexplicáveis, como a vida. Não sou entendido em cromossomos. O que sei de genética é pouco mas divertido: está espalhado nos mictórios do mundo.”
Homem do subsolo, personagem de “Memórias do Sub­solo”, de Fiódor Dostoiévski (Editora L&PM)
“Não apenas não consegui tornar-me cruel, como também não consegui me tornar nada: nem mau, nem bom, nem canalha, nem homem honrado, nem herói, nem inseto. Agora vivo no meu canto, provocando a mim mesmo com a desculpa rancorosa e inútil de que o homem inteligente não pode seriamente se tornar nada, apenas o tolo o faz. Sim, senhores, o homem do século XIX que possui inteligência tem obrigação moral de ser uma pessoa sem caráter; já um homem com caráter, um homem de ação, é de preferência um ser limitado. Essa é a minha convicção aos quarenta anos. Tenho agora quarenta. E quarenta anos é toda uma vida, é a velhice mais avançada. Depois dos quarenta é indecoroso viver, é vulgar, imoral.”
Arturo Bandini, personagem de “Pergunte ao Pó”, de John Fante
(Editora José Olympio)
“Caro Sammy, aquela putinha esteve aqui esta noite; você sabe, Sammy, a pequena sebenta com o corpo maravilhoso e a mente de um retardado. Entregou-me certos alegados textos supostamente escritos por você. Além do mais, afirmou que o homem da foice está vindo ceifá-lo. Sob circunstâncias normais, eu chamaria esta de uma situação trágica. Mas tendo lido a bílis que os seus manuscritos contêm, deixe-me falar para o mundo em geral e dizer imediatamente que a sua partida é uma sorte para todo mundo. Você não sabe escrever, Sammy. Sugiro que se concentre na tarefa de colocar sua alma idiota em ordem nestes últimos dias antes de deixar um mundo que vai suspirar aliviado com a sua partida.”
Heathcliff, personagem de “O Morro dos Ventos Uivantes”, de Emily Brontë (Editora Landmark)
“Não tenho dó nem piedade, quanto mais os vermes se retorcem, mais desejo sinto eu de lhes revolver as entranhas! É como uma espécie de dor de dentes moral; quanto mais a dor aumente, mais trinco os dentes! (...) O incômodo que me causa sua presença ultrapassa em muito o prazer que eu possa sentir em atormentá-la. (...) Eu sei que você procedeu infernalmente comigo... infernalmente, está ouvindo? E se tem a ilusão de que não apercebi disso, não passa de uma tonta! E se cuida que me consolo com palavrinhas amáveis, é uma idiota! E se imagina que vou ficar sofrendo sem tirar vingança, hei de convencê-la do contrário, e muito em breve!”
Henry Chinaski, personagem  de “Misto Quente”, de Charles Bukowski
(Editora L&PM)
“Eu não tinha interesses. Eu não tinha interesse por nada. Não fazia a mínima ideia de como iria escapar. Os outros, ao menos, tinham algum gosto pela vida. Pareciam entender algo que me era inacessível. Talvez eu fosse retardado. Era possível. Frequentemente me sentia inferior. Queria apenas encontrar um jeito de me afastar de todo mundo. Mas não havia lugar para ir. Suicídio? Jesus Cristo, apenas mais trabalho. Sentia que o ideal era poder dormir por uns cinco anos, mas isso eles não permitiriam. (...) Eu gostava do lugar, tinha grandes árvores que davam sombra, e desde que algumas pessoas haviam me dito que eu era feio, sempre preferia a sombra ao sol, a escuridão à luz.”
Paulo Honório, personagem de “São Bernardo”, de Graciliano Ramos
(Editora Record)
“Sou, pois, o iniciador de uma família, o que, se por um lado me causa alguma decepção, por outro lado me livra da maçada de suportar parentes pobres, indivíduos que de ordinário escorregam com uma  sem-vergonheza da peste na intimidade dos que vão trepando. Se tentasse contar-lhes a minha meninice, precisava mentir. Julgo que rolei por aí à toa. Lembro-me  de um cego que me puxava as orelhas e da velha Margarida, que vendia doces. O cego desapareceu. A  velha Margarida mora aqui em São Bernardo, numa casinha limpa, e ninguém a incomoda. Custa-me dez mil-réis por semana, quantia suficiente para compensar o bocado que me deu. Tem um século, e qualquer  dia destes compro-lhe mortalha e mando enterrá-la.”
Ebenezer Scrooge, personagem de “Um Conto de Natal”, de Charles Dickens
(Editora L&PM)
“Scrooge era um tremendo pão duro! Um velho sovina, avarento, mesquinho, unha-de-fome e ganancioso! Duro e áspero como uma pedra de amolar, não era possível arrancar dele a menor faísca de generosidade. Era solitário e fechado como uma ostra. A sua frieza congelou o seu rosto e encompridou ainda mais o seu nariz pontudo, murchou suas bochechas e endureceu seu caminhar; deixou seus olhos vermelhos, azulou seus lábios finos e tornou ferino o tom de sua áspera voz. Uma camada de gelo cobria sua cabeça, suas sobrancelhas e seu queixo áspero. Onde ia, levava consigo sua frieza, que gelava o escritório nos dias mais quentes do ano e não degelava nem um grau no Natal. O frio e o calor tinham pouca influência sobre Scrooge. Calor algum podia aquecê-lo e nem o vento de inverno esfriá-lo.”
Deus, personagem da “Bíblia”, no Velho Testamento
“Disse a Moisés: Toma todos os príncipes do povo, e pendura-os em forcas contra o sol: para que o meu furor se aparte de Israel. (...) Matai pois a todos os machos, ainda os que são crianças; e degolai as mulheres que tiveram comércio com os homens. Mas reservai para vós as meninas e todas as donzelas. (...) E o Senhor nosso Deus no-lo entregou: e nós o derrotamos com seus filhos  e com todo o seu povo. Tomamos-lhe ao mesmo tempo todas as suas cidades, mortos os seus habitantes, homens mulheres e meninos: e nela não deixamos nada. (...) Mas eles matarão as crianças com as suas setas, e não se compadecerão das mães em cujo ventre elas andarem, e a seus filhos não perdoará o olho deles. (...) E dar-lhes-ei a comer as carnes de seus filhos, e as carnes de suas filhas: e cada um comerá a carne de seu amigo, no cerco, e no aperto, em que os terão encerrados os seus inimigos, e os que buscam as almas deles.”

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

I Concurso de Minicontos da Autores S/A



Escritores de língua portuguesa: estão abertas as inscrições para o I Concurso de Minicontos do Autores S/A. Patrocínio: Editora Penalux. 
Porém, atenção: o blog Autores S/A fundou um novo blog, o ''Autores S/A: Concursos Literários", a fim de realizar todos os concursos separadamente. Ou seja: o formulário de inscrição está no novo blog. O endereço é: http://autoressaconcursosliterarios.blogspot.com/
Inscrevam-se gratuitamente e concorram a uma bela publicação e a outros prêmios!
Boa sorte a todos!
(Autores S/A: uma sociedade diferente)

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Roberto Sosa no ônibus


       Olá, depois de ouvir os poetas Lau Siqueira e Vamberto Spinelli Júnior em uma mesa, durante o IV Encontro de Literatura contemporânea, percebi o quanto esquecemos da literatura produzida por nossos irmãos latinos. Um erro que preciso corrigir na minha vida de leitor. Por isso, a partir de hoje, poetas latinos farão parte de nossas viagens. Espero que os passageiros apreciem.      




                          Poema Los Pobres 


Los pobres son muchos
y por eso
es imposible olvidarlos.
Seguramente
ven
en los amaneceres
múltiples edificios
donde ellos
quisieran habitar con sus hijos.
Pueden
llevar en hombros
el féretro de una estrella.
Pueden
destruir el aire como aves furiosas,
nublar el sol.
Pero desconociendo sus tesoros
entran y salen por espejos de sangre;
caminan y mueren despacio.
Por eso
es imposible olvidarlos.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Cordel de Fábio Mozart é objeto de projeto de lei na Câmara de Mari


O cordel “Mari, Araçá e outras árvores do paraíso”, de Fábio Mozart, será inserido na grade curricular da rede de ensino do município de Mari. É o que propõe projeto de lei que será apresentado pelo vereador Gugu Xavier (PTdoB) na primeira sessão da Câmara de Vereadores de Mari, no dia 19 de fevereiro.

Na justificativa, o vereador explica que a literatura de cordel é um veículo de fabuloso fomento à identidade regional, tendo nas camadas populares seus mais constantes e fiéis consumidores, sendo através dos tempos valorizada e cultuada como a verdadeira e autêntica literatura nordestina, o livro de bolso do povo da região. “O estudo de nossa história através do cordel “Mari, Araçá e outras árvores do paraíso”  vem recuperar nossa identidade, com ótimo resultado na auto estima do aluno que entrará em contato com o gênero mais identificador de nossa cultura, ao mesmo tempo em que aprenderá sobre os fatos marcantes da história de Mari e seus filhos ilustres”, diz Gugu no documento.

O vereador é filho do poeta repentista José Xavier Gonçalves, que teve como parceiros artistas do nível de Manoel Xudu e José Laurentino. “Como filho de poeta, reconheço o valor da obra de Fábio Mozart e sua importância para o estudo da história de minha terra”, disse ele. “Ter o cordel nas escolas pode representar um passo extremamente valioso para o devido reconhecimento e resgate desse tipo de literatura e dar à nova geração a oportunidade de apreciar a riqueza e expressividade da nossa cultura”, finalizou Gugu Xavier.

O autor do cordel, Fábio Mozart, foi convidado para presenciar a sessão da Câmara de Mari que apreciará o projeto. “Agradeço ao vereador Gugu Xavier por apresentar este projeto, entendendo o potencial pedagógico da nossa obra para ser utilizada no ambiente escolar, nesta cidade pela qual tenho grande afeição”, disse o poeta.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Glória Diógenes no ônibus



Apita o trem:

a hora do dor.
É deserto na janela.

O homem da casa
conduz o rumor dos trilhos
indiferente à paisagem.

O homem da casa traz mão vazias
infinitos dedos
de ninar, de morder, de esquecer.

Os vagões da aflição do prazer sem ser
calam gemidos ocos,
Cabeça para trás, cabelos por entre as mãos,
o dueto segue sem destino. 

Um homem muito grande,
pode mudar a direção dos ventos.

Vai- vem, vai- vem, pedaço por pedaço.
boca interrompida por mãos,
grita vedada a mentira que revela.
Lágrimas desacertadas,
inundam fábulas interrompidas.

O homem- máquina transpõe as horas.

Passado come inteiro o dia seguinte.
Família invisível na sala.
O mais tarde não vive,
e ninguém vê.
A menina apoucada,
engole palavras.

O que ele fala: 
Não diga nada, não conte.
Eu te dou um chocolate Garoto, a última Barbie
te cubro o lençol na hora do adormecer.

(O apito se afasta, a mão guarda a calça,
perene aroma da culpa impregna a sala)

O que ela cala: 
Não viajo. Permaneço.
Deito nos trilhos poemas em disparada. E permaneço.
Sob carris de morte e vida.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Thiago Fook no ônibus


foto de Jairo Cézar


as quatro estações


o ipê, amarelo…
a peça em curso no palco
a cor no roupeiro
**
vento intransitivo
recusa por complemento
a sauna do quarto
**
as unhas dos dedos
no lixeiro
as folhas dos galhos no juazeiro
**
cabelos em pé
(o vento em volta do fogo)
na espiga de milho
*

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Cyelle Carmem


TEU NOME


Teu nome
Santuário de terras estrangeiras
Tempo frio de trincar ossos.
Teu nome
é inaudível.
Nem poderia dizê-lo
Ouvi-lo
é anúncio de dias conturbados.
Sangue da minha dor
Teu nome é a cura
de doença não descoberta.
Longe de meus ouvidos
está sempre prestes a saltar da boca.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Affonso Romano de Sant'Anna no ônibus


Epitáfio Para o Sec. XX


1.Aqui jaz um século
onde houve duas ou três guerras
mundiais e milhares
de outras pequenas
e igualmente bestiais.
2.Aqui jaz um século
onde se acreditou
que estar à esquerda
ou à direita
eram questões centrais.

3.Aqui jaz um século
que quase se esvaiu
na nuvem atômica.
Salvaram-no o acaso
e os pacifistas
com sua homeopática
atitude
-nux vômica.

4.Aqui jaz o século
que um muro dividiu.
Um século de concreto
armado, canceroso,
drogado,empestado,
que enfim sobreviveu
às bactérias que pariu.

5.Aqui jaz um século
que se abismou
com as estrelas
nas telas
e que o suicídio
de supernovas
contemplou.
Um século filmado
que o vento levou.

6.Aqui jaz um século
semiótico e despótico,
que se pensou dialético
e foi patético e aidético.
Um século que decretou
a morte de Deus,
a morte da história,
a morte do homem,
em que se pisou na Lua
e se morreu de fome.

7.Aqui jaz um século
que opondo classe a classe
quase se desclassificou.
Século cheio de anátemas
e antenas,sibérias e gestapos
e ideológicas safenas;
século tecnicolor
que tudo transplantou
e o branco, do negro,
a custo aproximou.

8.Aqui jaz um século
que se deitou no divã.
Século narciso & esquizo,
que não pôde computar
seus neologismos.
Século vanguardista,
marxista, guerrilheiro,
terrorista, freudiano,
proustiano, joyciano,
borges-kafkiano.
Século de utopias e hippies
que caberiam num chip.

9.Aqui jaz um século
que se chamou moderno
e olhando presunçoso
o passado e o futuro
julgou-se eterno;
século que de si
fez tanto alarde
e, no entanto,
-já vai tarde.

10. Foi duro atravessá-lo.
Muitas vezes morri, outras
quis regressar ao 18
ou 16, pular ao 21,
sair daqui
para o lugar nenhum.

11.Tende piedade de nós, ó vós
que em outros tempos nos julgais
da confortável galáxia
em que irônico estais.
Tende piedade de nós
-modernos medievais-
tende piedade como Villon
e Brecht por minha voz
de novo imploram. Piedade
dos que viveram neste século
per seculae seculorum.

* Este poema foi recitado na voz de Tônia Carrero no CD "Affonso Romano de Sant'Anna por Tônia Carrero" da Coleção "Poesia Falada".

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

André Ricardo Aguiar


Epitáfio

Posto que não serei nada
que meus versos mais esquivos
sirvam de esquife (ou de esfinge)
que eu saia da vida por via da dúvida
e que minha poesia,
mais que um rarefeito horto,
seja uma poesia de menos
e de poucos.

in AGUIAR, André Ricardo.  A idade das chuvas.  São Paulo: Editora Patuá, 2012.  92 p.



sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

CBL prepara o 4º Congresso Internacional do Livro Digital




Com o tema "O Livro Além do Livro", a Câmara Brasileira do Livro (CBL) promoverá nos dias 13 e 14 de junho de 2013 o 4° Congresso Internacional CBL do Livro Digital, no Centro Fecomercio de Eventos, em São Paulo. O objetivo do Congresso é discutir os rumos do livro digital e principalmente sua importância para a educação e o fomento da leitura. As palestras abordarão assuntos como o papel do livro digital na educação, o limite entre os games e os livros digitais infantis, a influência do livro digital na leitura e o livro nas redes sociais. A Comissão do Congresso já convidou palestrantes nacionais e internacionais para o evento.

Inscreva seu trabalho científico e acadêmico no 4º Congresso Internacional CBL do Livro Digital!

Estão abertas as inscrições para  trabalhos científicos e acadêmicos relativos ao livro digital.
Os três primeiros colocados receberão fast track para publicação na REGE - Revista de Gestão da USP, além da premiação em dinheiro:
 
1º lugar: R$ 1500 (mil e quinhentos reais)
2º lugar: R$ 1000 (mil reais)
3º lugar: R$ 500 (quinhentos reais)
 
O primeiro colocado apresentará o trabalho vencedor em plenária, no Congresso. As inscrições vão até 12/04 sexta-feira, pelo site www.congressodolivrodigital.com.br. Conheça o regulamento completo clicando aqui.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

A programação do IV Encontro de Literatura Contemporânea foi oficialmente finalizada!


O anúncio foi feito por um de seus coordenadores, o escritor João Matias. 
Eis o texto na íntegra:

"Teremos no domingo, 10 de fevereiro, a palestra inicial com o poeta e nosso homenageado Sérgio De Castro Pinto. às 14h00 abrem-se as mesas de bate-papo com os escritores Ricardo Kelmer e Thiago Lia Fook sobre o tema: "Grupos literários e eventos alternativos". Com lançamento de livro de Ricardo Kelmer após a mesa.

Às 16h, Roberto Menezes da Silva e Paulo Vieira falam sobre "Romance, autoria e autodefinição". Com lançamentos dos romances Palavras que devoram lágrimas, de Roberto Menezes, e O Vôo da Borboleta Negra, de Paulo Vieira.

Dia seguinte, 11 de fevereiro, às 10h da manhã, a primeira mesa é com Bruno Ribeiro e Mercedes Cavalcanti sobre "Viagens, crônicas e ficções". Logo após, o lançamento dos livros "Cores da Paixão", Mercedes, e da Revista Sexus de Bruno Ribeiro.

Último bate-papo do Encontro, às 14h Lau Siqueira falará com Vamberto Spinelli Jr. sobre "Poesia: Brasil e América Latina", havendo inclusive, após a mesa, o lançamento de Rapunzel e Outros Poemas da Infância, livro de Jairo Cézar.

Fechando com chave de ouro, ou melhor, ouro dentro da cabeça, a palestra final com a grande Maria Valéria Rezende, sobre "O lugar e o não-lugar na literatura". Após a palestra, lançamento do romance de Valéria: Ouro Dentro da Cabeça.

O IV Encontro de Literatura Contemporânea é uma realização do Núcleo Literário Blecaute e doEncontro Da Nova Consciência. Não percam!"

com João Matias

IV ENCONTRO DE LITERATURA CONTEMPORÂNEA MIGRAÇÕES E DIVERGÊNCIAS NA LITERATURA

Local: Antigo Prédio do Curso de Administração da UEPB (Centro de Campina Grande)

Datas: 10 e 11 de Fevereiro.


Organização: Núcleo Literário Blecaute/ XXII Encontro da Nova Consciência.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

O lúdico na poesia de Águia Mendes e Eloí Bocheco


Por Neide Medeiros Santos – Critica literária- FNLIJ/PB 

Poesia 
é brincar com palavras
como se brinca
com bola, papagaio, pião. 
(José Paulo Paes. Convite. In: Poemas para brincar) 

Se fizermos uma retrospectiva da poesia infantil brasileira nos últimos trinta anos, iremos encontrar um bom número de poetas voltados para o lúdico. Nesta nova linha, destacamos José Paulo Paes e, mais recentemente, Manoel de Barros. A respeito desses dois poetas, há um fato curioso que merece ser registrado – José Paulo Paes e Manoel de Barros só começaram a escrever para crianças na maturidade. Estavam, portanto, como disse certa vez Manoel Bandeira, amadurecidos para a vida e para a poesia. 
“Poemas para brincar”, de José Paulo Paes, na acepção da professora Regina Zilberman “Como e por que ler a literatura infantil” (Objetiva: 2005): ”...talvez seja o texto que melhor esclarece o que significa escrever para crianças e esperar que o leitor aprecie, pois o escritor estabelece uma conexão entre brincar e escrever.” (p.129)
Manoel de Barros começou a escrever livros para crianças em 1999. O primeiro foi “Exercícios de ser criança” (Ed. Salamandra), depois vieram muitos outros. É um poeta que trabalha cada letra, cada sílaba, cada palavra, procurando dar harmonia ao texto. Nos seus poemas afloram sentimentos inerentes ao leitor infantil. Passarinhos e outros pequenos animais têm voz. 
A poesia lúdica de Paes e Manoel de Barros foi bem assimilada por poetas mais novos. A trilha de poetar com ludicidade encontra boa receptividade no paraibano Águia Mendes – “O boi pastando nas nuvens” (Ed. Ideia, 2010) e na catarinense Eloí Bocheco –” Pomar de brinquedo” (Ed. Larousse Jovem, 2009). 
O título do livro de Águia Mendes já nos transporta para o mundo onírico, da fantasia, dando-nos a impressão de que estamos diante de quadros de Marc Chagall. 
Quando abrimos o livro e começamos a ler os poemas, sentimos que o poeta está mesmo disposto a brincar com as palavras. A brincadeira se evidencia nas repetições, no jogo de palavras, no inusitado de certas imagens. Vejamos este exemplo: 

A escova de dente
da boca 
é o pente
escova cabelo 
de dente. (p.15) 

O ludismo também se faz presente na linguagem visual, como neste poema: 

árvores 
são aves 
de chão 
eternamente 
pousadas. (p.36) 

A ilustração criada por Horiéby Ribeiro apresenta troncos de árvores providos de bicos de passarinhos, olhos de gente e asas de anjo. 
Eloí Bocheco transformou “as caras lembranças da infância numa ciranda poética para celebrar o sonho e a fantasia”. Vamos dar um passeio pelo pomar de brinquedo e desfrutar da ludicidade dos poemas. 
No poema “Na roda”, o eu-lírico intertextualiza com as cantigas de roda: 

O limão entrou na roda
não sabia dançar
chamou a tangerina 
para ser seu par. 
(...) 
Assim assim 
assim assado
dança o limão
todo requebrado. (p.7) 

O processo de associação por semelhança está presente nestes versos que mais parece uma adivinhação: 
Por que será que 
a fruta do conde 
tem rugas? 
Quem saber contar 
é a tartaruga. (p.11) 

Eloí Bocheco é pesquisadora do folclore brasileiro e da poesia popular, daí seu gosto pelas quadrinhas populares como neste exemplo: 

De pertinho, as amoras 
são uvas em miniatura. 
Bote os cachinhos na mão 
e veja se são ou não são! (p.27)

Os poemas apresentados demonstram que estamos diante de dois poetas comprometidos com o lúdico que sabem fazer “peraltagens” com as palavras e cantar antigas cantigas de roda. 
Para caracterizar o menino/poeta Águia Mendes, escolhemos esses versos de Manoel de Barros: 
O menino aprendeu a usar as palavras
Viu que podia fazer peraltagens com as palavras
E começou a fazer peraltagens. (Exercícios de ser criança) 
Eloí Bocheco condiz com os versos de Cecília Meireles: 

Chegaremos de mãos dadas
cantando canções de roda. 
E então nossa vida toda
será das coisas amadas. (Cançãozinha para Tagore)